Sinto que já somos meio íntimos e, apesar de muitos não saberem, essa pessoa que vos fala carrega o gene do rutilismo. Não apenas carrega o gene, como também sofreu das mutações genéticas características dessa tão misteriosa condição que afeta menos de 2% da população mundial. Eu não tenho muito o que fazer, é o fardo que eu tenho que carregar. Nasci assim, cresci assim, sou mesmo assim e vou ser sempre assim: Gabriela. Ruivo.
Infelizmente, acho que minha completa transformação não aconteceu como deveria. Eu não ganhei exatamente a incrível cor de fogo nos meus cabelos, nem os olhos azuis, nem a incrível personalidade característica das protagonistas ruivas de livros YA, todas obviamente fabricadas no mesmo lugar. Eu, no máximo, ganhei umas sardas na cara, uma pele muito branca que nunca fica bronzeada e uma crise existencial do naipe "Seria eu realmente um ruivo? Ou um castanho que se perdeu na vida?".
A minha ruivindade vive em cheque. O meu cabelo é praticamente castanho. Principalmente por ser o tipo de pessoa que não merece ter um cabelo porque não sabe cuidar dele, é um castanho sem brilho e vida algum. É uma cor que você olha e nem saber dizer bem qual é. Às vezes, eu conto que sou ruivo, e pessoas que me viram pessoalmente dizem: Nossa, nem percebi! Mas tem vezes que nem digo nada e as pessoas já começam a me tratar por "russo" ou "ferrugem". De vez em quando, em fotos, bate uma luz boa e eu percebo, OPA, EU SOU MESMO RUIVO. A minha barba engana demais. Ela parece mesmo ser uma barba vermelha, mas, quando se olha de muito perto, dá para ver que ela é formada de fios pretos e loiros (não faço ideia como é possível). A minha sobrancelha é completamente preta, daí as pessoas ficam me perguntando se eu pintei o cabelo (nunca pintei). A raiz da coisa toda deve estar no balaio doido da minha mãe ser negra, eu ter uma avó indígena e a família do meu pai ser branca, mas tão branca que tem gente loira no meio.
Quando criança, eu chorava quando me chamavam de "cabelo de fogo", mas uma hora a gente cresce e precisa aceitar a nossa genética. Eu queria ser até MAIS RUIVO, sabe. Um ruivo naipe Rupert Grint. Uma coisa definitiva, ruivo em tempo integral. Eu tenho receio de ir nessas paradas só para ruivos e me barrarem dizendo Cê nem tinha que tá aqui, lindo. Mas também é bom ficar nesse limbo porque, quando me chamam de maluco, eu fico Eu só ruivo, né, fia, mas, quando fico de caretice, eu jogo a carta do ruivo fake. É meio que o melhor dos dois mundos.
Eu acho que ruivo está mais para um estado de espírito. Ou não. Quem sabe? Eu não disse em voz alta, mas me perguntaram se eu não tinha medo de raspar a cabeça e o meu cabelo nascer "normal". Olha, eu acho que essa possibilidade nem existe, mas seria TRÁGICO! MEU CABELO DE QUASE FOGO, NINGUÉM SAI.