Uma coisa que a humanidade custa em acreditar é que os seres humanos não são os seres mais iluminados do universo. Eu votaria nos golfinhos ou nos coalas. A gente não consegue se importar com tudo o que deveria, precisamos de empatia ou outros sentimentos menos nobres para fazer as coisas certas acontecerem. A Empatia, que é uma palavra que gosto tanto, acaba sendo uma faca de dois gumes, porque ela simplesmente dribla a lógica e nos faz tender mais para o lado daquele caso que nos toca, daquela história com a qual nos identificamos, daquela situação que nós conseguimos acompanhar de perto. No fim das contas, tem tudo a ver com a gente. Somos o centro do universo.
Daí que estou assistindo vocês postando textão mimizento contra a Copa, contra a reação de apoio das pessoas ao Neymar, que perdeu o sonho de participar da final desse campeonato e tal. Mas tem gente passando fome! Mas tem gente sem casa! Mas pessoas morreram no viaduto que caiu em BH e ninguém foi canonizado no Twitter, vocês dizem, que absurdo!
Gente, é a Empatia. Pode ser ainda pior do que a Consideração. Levanta a mão quem já ouviu falar das crianças desnutridas na África. Agora, levanta a mão quem já conheceu, mesmo que de longe, uma dessas crianças. Por fim, levanta a mão quem já fez alguma coisa efetiva para ajudá-las. Contaram as mãos levantadas em cada caso? Então.
Neymar foi onipresente nas propagandas, quase foi o artilheiro da Copa, salvou o Brasil diversas vezes em campo... Até o sósia do Neymaré querido pelas pessoas. O Neymar é aquele seu conhecido gente boa. Longe de mim querer canonizar o jogador, só estou dizendo que é a Empatia aparecendo de novo. Eu mesmo não derramei uma lágrima pelo pessoal literalmente morrendo de fome na Etiópia, mas fiquei na maior deprê com a notícia de que um ex-Survivor morreu, só por ser apaixonado pelo programa.
Tem viaduto caindo, acidentes trágicos acontecendo, gente vivendo em condições precárias, nego morrendo todo dia. Todo santo dia. Imagina você sofrendo por todo mundo. Imagina você querendo salvar o mundo. Acaba que a Empatia limita a nossa ação, mas também a nossa dor. A gente sofre por quem a gente conhece ou, pelo menos, por quem a gente compreende e se identifica. E não é pouca coisa não.
Concordo que soa patético o hype da hashtag #ForçaNeymar se você for parar para pensar em outros dramas e tragédias da vida. Mas, repito, a empatia dribla a lógica. Não dá para forçar empatia nas pessoas, total perda de tempo, e você ainda paga de chato. Porque é realmente chato forçar as pessoas. Triste, mas é a realidade.
Não acredito que vocês me obrigaram a escrever um textão mimizento.