Estava discutindo com um colega meu sobre a inclusão de pessoas trans na sociedade por causa de uma matéria sobre uma menina trans que foi proibida de usar o banheiro feminino da escola onde estudava. Gerou a maior polêmica e tal, mas, ao invés de bater boca e defender ferrenhamente um dos lados da discussão, eu tenho a tendência de ficar em cima do muro e procurar por uma alternativa que seja menos impactante para ambos os lados, a alternativa que causar menos atrito. Só que a discussão com o meu colega não estava indo a lugar nenhum, e eu percebi que discordávamos no conceito básico de pessoa trans.
- Ela fez a cirurgia de transição?
- Não sei, ué. Provavelmente não.
- Então não pode usar o banheiro feminino, ainda é homem.
- Mas, gente, se é mulher trans, é mulher!
- Não fez a operação! Não é trans então.
- Mas ser trans não é sobre a operação!
- Claro que é.
- Gente???
- Na minha opinião, é.
- Como assim na SUA opinião?
- É como eu vejo.
- Mas não tem nada a ver com você! Tipo, a sua opinião ou a minha nem estão em discussão aqui. Não fui eu quem inventou a definição de pessoa trans, ela está aí, divulgada publicamente. É tipo eu afirmar que Plutão ainda é planeta, sendo que a NASA, que é a autoridade no assunto, diz que não é.
Pensando nisso depois (porque eu fico repassando minhas discussões mil vezes na cabeça), eu reparei que essa NOSSA opinião é sempre um problema. A NOSSA vivência sempre atrapalha em debates que envolve muitas pessoas.
Ontem, por exemplo, eu estava lendo uma discussão no Twitter em que pessoas discutiam se o certo era bolacha ou biscoito. Tudo na brincadeira, claro (nem tanto). É a velha discussão que uma hora ou outra sempre vem à tona. Os cariocas fazendo de tudo para provar que o certo é biscoito, os paulistas batendo o pé para firmar bolacha como o correto. O barraco nunca acaba. Porque é uma coisa tipo "EU sempre falei biscoito, EU aprendi que é biscoito desde criança, todo mundo que EU conheço fala biscoito, então é biscoito". O mesmo pro Team Bolacha.
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Gente, vamos aceitar que nossa vida é bastante limitada no que diz respeito a servir de amostra para todas as discussões do mundo? Os meus vinte e poucos anos simplesmente não incluem nem metade das realidades existentes. O que eu vivi, como eu vivi, por onde eu passei, o que eu gostei ou não gostei é somente 1 realidade no meio de trocentas outras.
Ah, mas é biscoito. Meu querido, aquela outra pessoa aprendeu bolacha. Sim, você nem sabia que existia essa possibilidade, mas num estado ao lado do seu todo mundo fala bolacha. E TÁ TUDO BEM.
Ah, mas eu sofri bullying na escola e não fiquei com nenhum trauma. Que bom pra você, né? Mas tem gente que sofreu e não conseguiu superar. Tem gente que se mata por causa disso.
Ah, mas me chamam de GOSTOSA na rua todo dia e eu acho ótimo. Filha, ok, mas tem gente que não gosta, tem gente que se sente invadida, tem gente que acha abusivo.
Sabe, aceita que sua vivência não é universal! O que você acha, no fim das contas, conta muito pouco. É importante como dado numa discussão? SIM. Mas é uma informação entre muitas. Não dá para dar pitaco na vida ALHEIA levando em consideração apenas VOCÊ.
É bem simples: Viu que a outra pessoa tem um ponto de vista diferente? Pare, escute, entenda do que se trata. É muito mais construtivo do que invalidar de cara só porque não aconteceu com você.
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Achou esclarecedor? Achou verdadeiro? Foi tão bom para você quanto foi para mim? Então me ajuda a levar essa mensagem adiante compartilhando nas redes sociais? Se você não puder ou não quiser, eu vou entender. Mas ficarei muito grato com a sua ajuda.
Se você não compartilha do mesmo ponto de vista que eu, NÃO VEM TENTAR ME INVALIDAR, SAI DAQUI. Brincadeira. Pode comentar aí que eu sou todo ouvidos.